De acordo com estudos feitos na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ratos privados por 96 horas do sono REM – fase que ocorre, em humanos, predominantemente na segunda metade da noite e que cientistas acreditam estar relacionada às funções cognitivas como atenção e memória, entre outras funções – apresentaram modificações em 78 genes transcritos. Depois de 24 horas de descanso, 62% dos genes tiveram sua expressão normalizada. O estudo foi publicado na revista Behaviourial Brain Research.
A pesquisa foi feita no Instituto do Sono, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da FAPESP. Os autores do artigo foram Camila Guindalini, Monica Andersen, Tathiana Alvarenga, Kil Sun Lee e o coordenador do instituto, Sergio Tufik.
Segundo Camila, o córtex cerebral dos animais foi analisado em microarrays – lâminas preparadas com arranjo de fragmentos de RNA – e os dados foram validados com a técnica de reação de polimerase em cadeia em tempo real (RT-qPCR, na sigla em inglês).
“Essa técnica nos permitiu avaliar os genes de uma maneira global. Isto é, em vez de observar um gene específico, pudemos examinar como o conjunto se comporta depois de uma manipulação. Assim, avaliamos a expressão gênica global relacionada à privação de sono”, disse.
A observação global das modificações genéticas, segundo Camila, é importante por permitir avaliar as interações entre os diferentes genes. “Com isso, em vez de partir de uma hipótese específica, pudemos trabalhar com todo o sistema”, disse.
Camila explica que estudos anteriores já haviam demonstrado que algumas das alterações biológicas causadas pela privação de sono REM não são completamente revertidas depois de um período de rebote de sono – termo utilizado para indicar o fenômeno de um sono mais intenso após um período de privação.
“Sabemos que depois de 96 horas de privação de sono REM o animal não pode voltar à situação normal após o rebote. Ele pode demorar até dez dias para recuperar as condições anteriores. Um outro trabalho, por exemplo, mostrava que fêmeas privadas do sono por 96 horas, durante uma fase específica do ciclo estral, tinham o ciclo interrompido por dez dias”, afirmou.
Segundo a cientista, foi verificado que apenas 78 genes transcritos estavam alterados depois da privação de sono REM por 96 horas – incluindo genes relacionados a processos metabólicos, ritmo biológico (controle do período de sono e vigília), resposta a estímulos e regulação de proliferação celular.
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