domingo, 15 de março de 2009

A profecia da nanociência

O início da nanotecnologia teve como marco a palestra There is plenty of room at the bottom ("Há muito espaço no fundo") do físico Richard Feynman, realizada em 1959 na reunião anual da Sociedade Americana de Física. Na ocasião, ele profetizou que os físicos conseguiriam condensar os 24 volumes da Enciclopédia Britânica na cabeça de um alfinete. Para os especialistas, a nanociência está cumprindo a profecia.

“A densidade de dados armazenados nas memórias da informática e a velocidade de processamento aumentam a cada dia. Isso é resultado direto das nanotecnologias”, enfatiza. No entanto, há registros de que a nanotecnologia começou bem antes. O professor Paulo de Tarso C. Freire, coordenador da Pós-graduação em Física da UFC, conta que hoje, sabe-se que os fabricantes de certos vitrais de catedrais na idade média conseguiam determinadas tonalidades de cores por meio da inclusão de nanopartículas de ouro dentro dos vitrais. O ouro em tamanho nanométrico adquire a cor vermelha.

Mas eles não sabiam que se tratava de nanotecnologia. “Isto só foi descoberto quando cientistas e engenheiros de materiais começaram a trabalhar com os nanomateriais de uma forma mais sistemática na década de 1980”. Segundo ele, isso se deu principalmente por causa da fabricação de equipamentos como os microscópios eletrônicos de tunelamento, que permitiram uma caracterização mais precisa destes novos materiais. Para o pesquisador Cauê Ribeiro, da Embrapa Instrumentação Agropecuária, é difícil estabelecer a nanotecnologia como algo tão “novo”. “Muito do que chamamos de nanotecnologia hoje corresponde à “antiga” ciência coloidal, que estudamos há pelo menos 100 anos, com uma grande quantidade de impactos cotidianos”.

O mais recente, ele explica, é a capacidade de correlacionar as propriedades de alguns sistemas com características da nanoescala, o que caracteriza a nanotecnologia que vivemos hoje. “O que temos visto na prática é uma incorporação constante e cada vez mais rápida de inovações nesta área em produtos e processos que já tem interesse estabelecido”. O pesquisador destaca ainda que, até o momento, a nanotecnologia não gerou novas necessidades nas pessoas, como foi o caso da Internet. “Mas o que vemos num futuro próximo pode ser realmente revolucionário, principalmente, se as promessas de novos paradigmas de produção e uso de energia (energia solar, células combustíveis, entre outras) a partir da nanotecnologia se concretizarem”.



O QUE É A NANOTECNOLOGIA?

Quando determinado material está dividido em tamanho nanométrico (um bilionésimo do metro), ele pode adquirir uma propriedade que não tinha antes, quando estava em tamanho maior. Por exemplo, a prata, em nanopartículas, adquire propriedade antifungicida, evitando o cheiro ruim causado pelo suor. Quando o tamanho e a morfologia (forma) induzem o aparecimento de novas propriedades em um determinado material, o trabalho passa a ser desenvolvido no campo da nanotecnologia ou nanociência. O tamanho em si, não é parâmetro para definir se é nanotecnologia. Nem tudo que é nanométrico é nanotecnológico. Isso só acontece quando há mudança na propriedade. Nanopartículas sempre existiram, assim como as propriedades dos materiais neste tamanho. O problema é que antes não havia equipamentos que possibilitassem a manipulação dessas partículas. Isso tudo se deu graças a invenção do microscópio eletrônico.


Texto retirado do site da seção "Ciência & Saúde", do jornal "O povo", de autoria de Yanna Guimarães.

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